Desde os primórdios da endoscopia digestiva, o intestino delgado sempre foi uma região de difícil acesso e varas tecnologias procuram melhor investigar esta região, especialmente nos casos de perdas de sangue não esclarecidas por endoscopia digestiva alta e colonoscopia. Atualmente há dois exames que permitem a visualização deste segmento: a cápsula endoscópica e a enteroscopia. Ambos têm prós e contras ao seu favor e Nossa Clínica resolveu apostar no primeiro.
I. O que é ?
Trata-se de um conceito de captura de imagens endoscópicas através da ingestão de uma micro-câmera ( Cápsula Endoscópica – CE ) por via oral. O equipamento captura imagens do tubo digestivo e as envia para um gravador ( Holter ). No dia seguinte o paciente retorna à Clínica para retirar o gravador, enquanto a CE é eliminada pelo organismo junto com as fezes após certo período de tempo. O médico conecta o Holter a uma central e analisa as imagens adquiridas, gerando um laudo do estudo realizado com as imagens suspeitas adquiridas.
II. Qual é o preparo para o exame?
Há três tipos de exame por CE:
1. Esôfago: Não é necessária sedação. O paciente comparece à Clínica em jejum de oito horas e ingere a CE com água. Não é necessário jejum, sendo permitida a ingestão de líquidos claros mesmo durante a captura de imagens. O paciente retorna ao Nosso Serviço no dia seguinte para retirada do gravador. A CE é eliminada pelas fezes após certo período de tempo.
2. Intestino delgado e cólon: Não é necessária sedação. O paciente comparece para o exame após a realização de preparo intestinal com laxativos, deglute a CE e pode manter dieta líquida clara durante o período do exame. O paciente retorna ao Nosso Serviço no dia seguinte para retirada do gravador. A CE é eliminada pelas fezes após certo período de tempo.
III. Para que serve a CE ?
1. Esôfago:
› Diagnóstico de lesões mucosas
› Controle endoscópico evolutivo nos casos de Doença do refluxo gastro-esofágico e Barret
› Controle após RXT/QT ou cirurgias esôfago-gástricas
› Controle endoscópico após tratamento de varizes esofageanas
› Avaliação endoscópica para pacientes com intolerância à endoscopia digestiva alta ou à sedação
2. Intestino delgado:
› Diagnóstico de anemias ou perdas de sangue não diagnosticadas por endoscopia digestiva alta ou colonoscopia por endoscopista experiente
› Suspeita clínica ou radiológica de lesões mucosas de intestino delgado (lesões por anti-inflamatórios, Doença Celíaca, lesões vasculares, neoplasias, doenças inflamatórias intestinais, etc)
› Controle evolutivo de Doença de Crohn ou Retocolite ulcerativa inespecífica ( RCUI )
3. Cólon:
› Controle evolutivo de Doença de Crohn ou RCUI
› Controle evolutivo em portadores de polipose
› Colonoscopias incompletas devido a angulações ou moléstia diverticular severa
› Prevenção do câncer colo-retal em pacientes com histórico familiar ou acima de 50 anos de idade
› Avaliação endoscópica para pacientes com intolerância à colonoscopia ou à sedação
› Controle evolutivo após radio/quimioterapia ou cirurgias colorretais.
IV. Há riscos envolvidos no procedimento ?
Como em qualquer procedimento médico há riscos, porém, segundo a literatura internacional e nacional são muito pequenos, dentre eles:
a. Impactação da CE na faringe ou esôfago: É diagnosticada precocemente por dor ou dificuldade para engolir, dor retro-esternal e eventual sialorréia.
O tratamento é a endoscopia digestiva alta, com retirada da CE.
b. Retenção da CE: é diagnosticada retenção da CE quando a mesma não é eliminada normalmente pelo organismo após duas semanas depois da sua ingestão. As principais causas são as paresias e as subestenoses.
O tratamento pode ser:
› Clínico: uso de medicamentos procinéticos, catárticos e laxativos
› Endoscópico: realização de endoscopia digestiva alta ou colonoscopia, de acordo com a área de impactação, com remoção endoscópica da CE.
› Cirúrgico: A cirurgia é necessária em até 0,75 % dos casos não resolvidos clínica ou endoscopicamente. É relevante salientar que pacientes portadores de estenoses seriam candidatos potenciais a cirurgia para resolução do quadro oclusivo, sendo que muitos portadores de estenoses do tubo digestivo são assintomáticos ou oligo-sintomáticos.
V. Utilização da CE na pediatria e adolescência
• Envolve menores riscos e é mais bem tolerada do que a Endoscopia digestiva alta e a colonoscopia.
• Permite obter imagens de áreas não visualizadas por Endoscopia digestiva alta e colonoscopia.